A SÍNDROME DE JANUS NO GOVERNO BOLSONARO

É necessário, o quanto antes, remover a face proselitista, que só atrapalha, para que a face da governabilidade possa vingar no rosto do governo

 

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Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*

O Brasil é um país dicotômico, partido e polifacetado, que possuí várias instituições acometidas pela “Síndrome de Janus”. Janus é um deus romano que representa o início dos caminhos e as escolhas – por isso mesmo é representado por uma cabeça com duas faces: a que olha para o passado, a que vislumbra o futuro, a que observa os erros, a que enxerga os acertos, a que vislumbra o certo, a que mira o errado…

O grande problema do Governo Bolsonaro é que essa síndrome e Janus está hoje perceptível na cúpula governamental, e afeta a imagem não apenas do governo, mas do Brasil no exterior. Essa dicotomia também suga energias e distorce as ações e pode inviabilizar o próprio governo e jogar a Nação em uma crise.

É necessário, o quanto antes, remover a face proselitista, que só atrapalha, para que a face da governabilidade, bem sucedida, possa de fato vingar no rosto do governo.

Sobre isso fui entrevistado pelo jornalista Arnaldo Risemberg para a Rádio Sputnik – Brasil. A Rádio Sputnik é mídia da agência russa internacional de notícias Rossyia Segodnya (Rússia Hoje) – antiga Voz de Mascou, sediada na capital russa e direcionada ao Brasil.

Para ouvir a entrevista, basta clicar aqui ou na imagem abaixo:

sputnik

 

A cada dia que passa aumentam denúncias no exterior contra o Presidente Jair Bolsonaro. Os ataques ao mandatário da Nação têm por fundamento suas falas e atitudes, em especial seu comportamento diante da pandemia da COVID-19, isso ocorre na ONU e até no tribunal internacional penal.

Essa avalanche de denuncias decorre da “Síndrome de Janus” que acomete o mandatário e seu coverno. Janus é um deus romano protetor dos inícios e das escolhas, ele é representado por uma figura masculina cuja cabeça possui dois rostos, voltados para direções opostas. Assim, pode-se dizer que há dois governos bolsonaro, hoje.

O primeiro é o real, o que governa o país – e governa bem. Está estruturado a partir de um gabinete da presidência estruturado colegiadamente, coordenado pelo Chefe da Casa Civil, composto dos ministros militares que ocupam as secretarias de governo, assuntos estratégicos, segurança institucional e o ministério da defesa. Esse gabinete conta ainda com o apoio do Vice-Presidente, General Mourão. Escalado pelo próprio presidente no início deste ano de 2020, esse gabinete faz a máquina do governo funcionar, gerencia os conflitos institucionais e toca as reformas necessárias à modernização do Estado e à manutenção da governabilidade.

O segundo governo bolsonaro é o rosto midiático do próprio presidente, e encontra-se enredado em uma contínua campanha eleitoral. Promove ações de cunho proselitista e pratica uma agressiva política de enfrentamento. Todos os dias, esse rosto procura um inimigo para malhar como judas na Semana Santa, promove agitações, estimula suas hostes a promoverem campanhas de destruição sistemática de reputações e convive com todo tipo de atitude descrente e mesmo hostil ao regime democrático.

Essa dicotomia termina se refletindo nas reais intenções contidas nas denúncias de entidades e organismos internacionais. De um lado, há uma massa de questionamentos advindos do profundo desconforto causado pelos atos e atitudes governamentais contra valores e campanhas relacionadas á sustentabilidade do planeta, ao combate às pandemias e às ações de enfrentamento às mudanças climáticas. Mas de outro, há um evidente oportunismo globalista, que procura usar a crise de imagem para desacreditar e atacar um governo que adotou a linha soberanista desde o primeiro dia.

Por óbvio que a imagem do governo fica comprometida – e isso transmite ao mundo uma visão absolutamente incondizente com o que se está fazendo de bom e salutar no país – como o efetivo combate à corrupção, de modo que não houve, neste governo, um único escândalo de corrupção, e o combate à criminalidade organizada, a retomada da agenda de implantação da infraestrutura, a manutenção do abastecimento e da pujança do agronegócio, etc.

Lógico que a segunda face de Janus contribui decisivamente para essa queda de imagem internacional, e os ministros comprometidos com o rosto proselitista do governo bolsonaro têm contribuído para esse dano – gerando uma crise atrás da outra em suas pastas.

O episódio desnuda a impressionante falha existente na comunicação institucional do governo bolsonaro, que compromete a credibilidade na opinião pública e os negócios do Brasil no exterior.

Revela, também, uma falha de conduta que necessita ser imediatamente corrigida, sob pena de inviabilizar o governo.

As hostes bolsonaristas, baseadas na face proselitista do Janus governamental, por exemplo, parecem querer esticar a corda até o rompimento com o maior parceiro comercial do Brasil, que é a China – e isso parece ter método. De toda forma o resultado é péssimo e desestimulante, inclusive para os ministros mais importantes do governo federal e suas equipes.

Sérgio Moro, na Justiça, e Tereza Cristina, na Agricultura, são alvos fáceis para as hostes bolsonaristas, que trafegam pelo rosto proselitista – e isso pode destruir a imagem do Brasil no combate á corrupção e no agronegócio. A insegurança típica das ações proselitistas também poderá fazer o governo alterar da tecnocracia para o mais raso fisiologismo em questão de horas.

É hora de se proceder a uma dura correção dessa disfuncionalidade. O rosto proselitista deve ser arrancado, para que o real possa governar, sob o comando do presidente, com efetividade e eficácia.

 

AFPP (2)*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View”. Foi integrante da equipe que elaborou o plano de transição da gestão ambiental para o governo Bolsonaro.

 

 

Fonte: The Eagle View
Publicação Dazibao, 24/04/2020
Edição: Ana A. Alencar

 

 


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