ANTES DAS TREVAS, UM DESABAFO…

Um basta à mediocridade!

 

Lua em meio às trevas (foto de Rubens Rihl)

Lua em meio às trevas (foto de Rubens Rihl)

 

Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*

Estou muito cansado de abrir minhas redes sociais, diariamente, e me ver inundado por barbaridades e insultos de uma pretensa direita, iguais às que os petistas – da pretensa esquerda, despejavam nas mesmas redes, “com nosso dinheiro” via blogs sujos, no passado próximo.

O problema, agora, é que a maldade é mais tosca, fanatizada e acompanhada de insultos. Algo próximo de uma marcha de SAs (tropa de nazistas camisas-pardas), com o bastão em punho, no meio do povo, empurrando todo mundo e desafiando quem olha feio.

Essa imagem é que me vem à cabeça quando me deparo com as postagens de vídeos ou impressas dos seguidores da tropa de choque bolsonarista. Um festival de gente feia por dentro e por fora (as que se acham bonitas são as piores), postadas de forma amadora ou no pior estilo kitsch. Idéias e formulações toscas, destrutivas, plenas de adjetivos desairosos, com cacetadas distribuídas à vontade, usando pretextos vitimistas para vitimizar de fato o inimigo do momento (e sempre há um…), no ambiente virtual. Uma poluição de barbaridades que faria Mark Twain corar por ver que há humanos que não coram pelas besteiras que proferem.

Prestam um desserviço ao próprio governo que dizem apoiar – e sobre isso falo adiante.

O denuncismo, acompanhado da manifestação orwelliana do “ministério da verdade” da seita bolsonarista chega a assustar – tamanha a capacidade que hoje possui de imbecilizar pessoas antes tidas por inteligentes. Os infelizes não percebem que fazem tábula rasa de tudo à sua volta, tal qual fizeram e fazem os seguidores de Dilma Rousseff, Lula e seus apêndices lotados de “ismos” e “ários”. É como se ambos os “polos” estivessem fundidos em uma simbiose medíocre e sinistra. Uma supremacia dos idiotas.

Francamente, já estou farto do “IV Reich Bolsonarista” e seus capachos… uma mistura de Trump com supremacistas brancos em versão tupiniquim – gente chata, ignorante, tosca, arrogante e bajuladora.

O mundo é maior que essa fossa de contumélia e insanidade, que está se tornando a política nacional. Assim, o melhor é dar um basta à mediocridade para nos dedicarmos ao mundo, não à fossa.

E antes que as trevas baixem é importante anotar que de forma alguma o Brasil irá para a fossa. Sabemos do que a mobilização popular é capaz no Brasil. Ninguém irá abandonar o Estado ou o Governo à sanha das trevas de ocasião.

Os cidadãos de bem fizeram uma aposta. Assim, toleram a idiotice toda porque compreendem o que precisa ser feito. A eles cumpre e sempre cumpriu eleger governantes, trocá-los, limpar o mal feito dos governos anteriores, manter o que de bom resultou, substituir o lixo, reconhecer os erros, apoiar, trocar, errar, substituir, tentar outra vez… até que o Brasil cumpra seu destino. E esse destino será sem dúvida glorioso. Não há preguiça na história do povo brasileiro.

O prestígio do governo – como todo prestígio, é efêmero, e não significa sucesso da mediocridade que aqui trato de denunciar. É preciso compreender o fenômeno no contexto da síndrome de Janus que hoje acomete a gestão de Jair Bolsonaro. É esta síndrome que está pondo em risco todo o projeto de Brasil, que apoiamos e que é muito maior que a figura dele.

Janus é um personagem mitológico romano com duas faces, que indica caminhos diversos. É essa duplicidade das duas faces que se revela hoje no governo. Um governo que trabalha sem escândalos de corrupção há quase dois anos, mas que, de repente, se dedica a destruir a Lava-Jato, procura instrumentalizar polícia e MP para perseguir oposicionistas, ameaçar a liberdade de imprensa, e que está prestes a taxar livros (!!!)… Um governo que combate as medidas sanitárias que ele mesmo aprova e instiga uma “revolta da vacina” negando gravidade a uma pandemia. Que não se decide entre pôr fogo na mata e passar a boiada ou preservar a Amazônia para o povo brasileiro.

Isso precisa ser extirpado o quanto antes.

O mais escabroso é que o excelente trabalho realizado pela outra face do governo, a da governabilidade, da Infraestrutura, Agricultura, Energia, Desenvolvimento Regional e Assuntos Estratégicos, e que eu particularmente apoio – assim como a grande maioria do povo brasileiro – e eu acrescentaria muita coisa das Relações Exteriores também… por conta dessa dualidade, parece correr o risco de terminar enevoada na memória dos cidadãos entorpecidos pelas notas desafinadas do sanfoneiro que toca na biblioteca do Palácio do Alvorada, nas “lives” do presidente…

Esse quadro jeca na parede é reproduzido à exaustão pela seita bolsonarista, ofuscando o restante da decoração que tem tudo para brilhar na casa dos brasileiros. De fato, é um contraste que entristece.

Populismo é mesmo a desgraça da política latino-americana.

 

AFPP-MAR20201-e1590705187106*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View”. É Consultor Jurídico da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos – ABREN, consultor do Banco Mundial, sendo responsável pelo consórcio que elaborou a análise da Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil, em 2009, para o governo do Brasil e consultor do PNUD, no estudo para a Presidência da República sobre normas e diretrizes para a disposição de rejeitos, em 2014. Foi integrante da equipe que elaborou o plano de transição do que deveria ter sido a gestão ambiental para o governo Bolsonaro.

 

Fonte: The Eagle View
Publicação Daziba0, 03/09/2020
Edição: Ana A. Alencar

 

 


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