Demolição, fome de atenção midiática ou fragilidade estratégica?

Hora do governo Bolsonaro atentar para o alerta dos verdadeiros amigos

 

Ilustração - Frank Maia

Ilustração – Frank Maia

 

Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*

Como em toda obra, há um período incômodo, barulhento, impactante… da demolição, da retirada do entulho, das implosões e derrubadas de estruturas. Passado o período, começa o da construção – com menos barulho e seguindo um certo concerto de ações predefinido. Ao final, a parte mais delicada, que é a finalização.

É fato que no caso das transformações em curso na estrutura do Estado Brasileiro implementadas por Bolsonaro há demolições e construções ocorrendo em sítios diversos, sítios vizinhos e até no mesmo sítio.

No geral, percebe-se excelentes iniciativas que, combinadas, apontam para o surgimento de uma nova cultura de governança, preparando o país para a retomada do desenvolvimento, que certamente virá.

Esse conjunte de ações transformadoras conta com o apoio, inclusive, de quem construiu a carreira durante o período lulopetista. De fato, funcionários públicos que estiveram no círculo de poder de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, hoje compõem o governo anti Lulo-Dilmista. Pelo menos 71 dos 180 integrantes (39%) do primeiro e do segundo escalão – a cúpula da administração federal, estiveram em postos importantes das gestões petistas.

Assim, até na demolição, várias colunas permaneceram de pé.

Percebo, no entanto, que a iconoclastia militante, surgida no bojo das demolições, forma uma cultura perniciosa que necessita ser contida o quanto antes, sob pena de comprometer todo o conjunto de boas ações que estão sendo implementadas – a grande maioria delas longe dos holofotes da imprensa ou das telas do Twitter.

Esse movimento de encontros e desencontros ocorre dentro do governo, nas cercanias e no interior do Palácio do Planalto. Parece que há uma obsessão pelo enfrentamento, sempre conjugada pela necessidade de ampliar a rede de seguidores em redes sociais ou aparecer na mídias mainstream… ainda que seja pelo efeito negativo das ações empreendidas.

Identifica-se uma quase dependência química por factoides – no sentido de se criar fatos sem qualquer relevância, ou ainda em fase de maturação, só para manter o personagem na mídia. Transparece em certos personagens a necessidade obsessiva de ganhar “likes” no twitter, similar à obsessão profissional dos youtubers que recomendam o “joinha” e o “toque no sininho” quando seguidos por hordas de pré-adolescentes.

ANITA, aquela rebolativa performer musical, não nutre sede de aparecer como parecem nutrir certos quadros bolsonaristas e seus barulhentos defensores – sempre prontos a descer o porrete verbal em quem alerta para o risco do “rei ficar nu” – na mesma linha arquetípica do conto de Andersen.

Nesse ponto, em meio aos arroubos de arrogância explícita e retorsão imediata a qualquer alerta de aliados, começo a enxergar um certo “desnudamento parcial” no governo que apoio, fato que, não nego, me provoca sensação inicial de vergonha alheia.

Ora, a demolição foi eficaz ao expor as chagas do regime tucano-petista, desmascarando as viúvas de camiseta vermelha e sanduíche de mortadela. Com efeito, a esquerdopatia lulopetista já se tornou de tal forma óbvia que não mais necessita ser espancada sistematicamente. Ela se desfaz no ar e expõe ao ridículo seus militontos.

Por isso mesmo, é chegada a hora dos “pokemons bolsomínions evoluírem. Superarem as arenas de embate puro para construírem uma agenda para além da demolição.

Lógico que essa transformação, além de urgente, não autoriza a manutenção do alerta. O núcleo duro do establishment, é fato, continua firme, conspirando.

A lawfare está apenas no início. Os quadros agressores estão esquentando os motores e lustrando armas no STF, MPF, TCU, CGU… etc

O parlamento é outro teatro de operações complexo. Ali, o establishment – encastelado no comando do Congresso Nacional, já percebeu que pode se descolar do executivo.

Essa sensação de descolamento é perigosa para a estabilidade da República e aponta para uma “evolução” do chamado “presidencialismo de coalizão” para um “semi-presidencialismo” – alardeado em prosa e verso nas rodas de coquetéis parlamentares, na grande imprensa e até mesmo na academia.

Na estrutura do “semi-presidencialismo”, o fisiologismo abandona a caça explícita às propinas de empreiteiras de obras contratadas pelo Executivo – mesmo porque a configuração de apoio às campanhas eleitorais mudou. Agora, o fisiologismo passa a ser manejado diretamente no âmbito do parlamento, sem interferência do executivo, a partir das emendas parlamentares e verbas distribuídas aos partidos. O maior exemplo dessa odiosa corrupção está na absurda proposta de TRIPLICAR a verba partidária direcionada ao sustento das campanhas eleitorais para os pleitos municipais.

Não à toa, A lawfare a ser empreendida pela jusburocracia federal e o semi-presidencialismo parlamentarista formam, agora os dois novos pilares do establishment contra as reformas propostas pelo governo Bolsonaro, e ambos os pilares contam, firmemente, com a ebulição permanente dos desencontros e enfrentamentos nutridos pela obsessão de factoides por parte das hordas e áulicos bolsonaristas. Essa ebulição, imaginam os conspiradores da República, ainda irá desfocar o esforço de governança até agora empreendido, igualará a imagem do governo atual com o somatório de eventos folclóricos dos governos de Lula e Dilma e, assim, facilitará o soerguimento de barreiras institucionais que obstruam o próprio governo, retirando-lhe credibilidade e viabilidade.

Por óbvio, é o que querem e o que se esforçam por rotular os próceres do establisment contra Bolsonaro.

Postas essas reflexões, revelo que esse alerta-desabafo, advém da sensação de desconforto que senti, e não sou o único, com a sucessão de factoides e vituperações surgidas na mídia, a pretexto de espancar toda e qualquer crítica aos rumos adotados pelo governo – seja nas bravatas relativas à dança da chuva no setor da educação, no fritar das hamburguerias diplomáticas, nos sopapos explícitos e intestinos na base parlamentar do partido do governo, na constante agenda negativa apresentada em alguns setores sensíveis – como é o caso do turismo, que servem de prato cheio à mídia amestrada, seja, também, na cíclica campanha difamatória contra os representantes militares que hoje literalmente carregam o peso do governo – de forma a permitir que os setores técnicos desenvolvam o que se planejou e está sendo executado no bojo das reformas estruturais no governo federal.

Esse trabalho não deve sofrer riscos em função de desgastes absolutamente desnecessários. Razão pela qual, urge repensar ou reforçar um estratégia inovadora e firme de comunicação OFICIAL.

É preciso, sobretudo, que o governo componha um bom sistema de aconselhamento, para além dos seus quadros de execução de primeiro escalão – de forma a permanecer conectado com a realidade da sociedade (que não se aufere nos likes de twitter), permitindo-se ser previamente avisado quando correr risco do rei ocasionalmente ficar nu.

Afinal, quem avisa, realmente amigo é.

 
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*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. Foi presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB/SP, da Câmara Técnica de Legislação do CEBDS, do Comitê de Meio Ambiente da AMCHAM, consultor do governo brasileiro, do Banco Mundial, da ONU e vários outros organismos encarregados de aperfeiçoar o arcabouço legal e institucional do Estado no Brasil. Integrou o grupo encarregado de elaborar o plano de transição do governo Bolsonaro no campo ambiental. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.

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Fonte: The Eagle View

 

 


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