ERRANDO O INIMIGO E REVELANDO A RETAGUARDA

É preciso distinguir o inimigo certo… do errado. O erro revela o flanco e a retaguarda do atacante equivocado.

 

ESTRADA-1
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*

“Dessa forma age o ego: sente-se atacado, questionado, ofendido… e quer ter sempre razão no jogo de ser superior aos outros.”

O ego é um grande inimigo do aprendizado, principalmente na política. Os quadros democratas do establishment, vítimas notórias dessa armadilha, já deveriam tê-lo aprendido.

Porém, o grupo postado no arco amplo que vai da social-democracia ao liberalismo mais conservador, parece não aprender.

Talvez isso ocorra por não ter se dado conta estar também atolado na lama da pocilga em que o país se transformou – embora tenha ainda condições de ajudar o Brasil a sair desse estado.

Um bom exemplo é o confuso quadro estabelecido no processo eleitoral no Estado de São Paulo. Não por outro motivo, hoje, no estado de São Paulo, o governo formado por uma base de apoio ao candidato tucano à presidência, Geraldo Alckmin, corre o risco de sair do prumo das pretendidas – e necessárias mudanças na governança, justamente pela ambição tucana de envolver em qualquer contenda, a necessidade do PSDB ser superior aos outros.

Paulo Skaf, à frente do MDB, passou a ter chances reais de assumir o governo, pois o candidato tucano, João Dória, cai pelas tabelas das pesquisas eleitorais sob o peso de uma justificada rejeição, não sem antes insistir em desgastar o grande aliado de Geraldo Alckmin, Márcio França, o atual governador do estado, também candidato e postado em curva ascendente nas mesmas pesquisas.

Márcio é efetivamente responsável pela manutenção de uma estrutura de base eleitoral para o próprio candidato tucano à presidência da República – Geraldo Alckmin.

O confuso quadro tucano em São Paulo, é mesmo inusitado. Para se ter uma ideia, o principal candidato ao senado, rivalizando com o eterno candidato Eduardo Suplicy, do PT, o líder Mario Covas Neto, cujo nome se confunde com a melhor tradição tucana, é candidato indicado pelo partido Podemos, ao senado, pela coligação Avança São Paulo, encabeçada por Márcio França, do PSB.

Enquanto a chapa de Marcio França soma com uma Coronel da PM na vice-governança e uma série de bons quadros de vários matizes ideológicos, em prol de um estado mais seguro para o cidadão, o principal consultor de segurança do tucanato, Cel. José Vicente, abandona a canoa de João Dória, denunciando a irresponsabilidade do candidato emplumado com relação ao setor ao urdir propostas demagógicas e inexequíveis.

Dória é mesmo uma escolha desastrada. Insistiu, desde o início, em fustigar Márcio França, de quem era aliado até a véspera. Errando o alvo, abriu a retaguarda para quem corria por fora e, agora, vê-se ultrapassado por Skaf e também ameaçado por Márcio, a quem havia subestimado. Pelo menos, é o que dizem as pesquisas.

No campo nacional, o erro estratégico ao escolher o inimigo não é diferente.

Como que aceitando a sugestão de José Dirceu, os afobados assessores mais à esquerda de Geraldo Alckmin dirigiram as baterias tucanas contra Jair Bolsonaro, seguindo estratégia similar á de Dória.

Mas Bolsonaro é o inimigo errado.

O grande inimigo do discurso de moderação e defesa da moralidade pública, que tucanos inserem no mote da campanha de Alckmin, foi e continua sendo o lulopetismo. O PT e seus aliados esquerdistas continuam sendo o grande inimigo, não apenas da campanha de Alckmin e Bolsonaro, mas de todo o Brasil.

Ajustar a mira contra Bolsonaro, “aliviando” para o golpismo proto-bolivariano lulopetista, constitui um erro de foco descomunal, que só faz crescer a dispersão de eleitores à direita do candidato presidencial do PSDB. Isso envolve o adestramento da mídia engajada do tucanato, e os discursos de propaganda eleitoral.

A começar da questão delicada da frente ampla envolvendo partidos e líderes atolados em denúncias de corrupção, a campanha do grupo moderado – e “recuperável”, do establishment, expõe um flanco indesejável, e abre uma frágil retaguarda, ao opor-se ostensivamente a Bolsonaro, cujo discurso franco não deixa margem para dúvidas.

A campanha de Geraldo Alckmin, que detém um enorme arco de alianças, por exemplo, ao agir contra o inimigo errado, atrai para si uma pecha de engajamento ao passado incômodo, do qual deveria se livrar…

A propósito, vale a pena observar o quadro abaixo, para não ter dúvidas do que está realmente em jogo no eleitorado brasileiro:

 

Um guia para orientar a campanha de quem se pretende defensor dos valores do Brasil

Um guia para orientar a campanha de quem se pretende defensor dos valores do Brasil

É preciso ter inteligência para além da arrogância. Caso contrário a derrota é certa. E isso já foi visto antes. O grupo de Geraldo Alckmin cometeu o mesmo erro na campanha de 2006, contra Lula, e a adesão do candidato tucano ao proselitismo esquerdizóide resultou numa votação menor que a que havia obtido no primeiro turno.

Mario Covas, o pai, em 1998, no entanto, não se deixou levar pela balela de bater nos opositores à direita. Literalmente sacrificou aliados à esquerda para manter o foco na polarização contra os petistas (então liderados por Marta Suplicy), ciente que a vaga à direita seria de Maluf. Isso permitiu que reunisse forças para vencer Paulo Maluf no segundo turno, articulando um novo arco de alianças com o que sobrara à esquerda…

Polarizar com Bolsonaro, agora, portanto, é errar o foco. É ignorar o que realmente pretende o dispositivo bolivariano ainda instalado em Brasília. É desconhecer que só o caos absoluto servirá de base para o desesperado esforço petista de resgatar o poder.

Os petistas estão dispostos a virar a mesa a qualquer preço. Contam com o que há de pior no “deep state”, na jusburocracia. O dispositivo bolivariano que ainda age na cúpula das instituições jus burocráticas, manobrará com Lula e seus postes, manipulando o que for preciso para tentar tomar de assalto o poder da República.

Eles não hesitam. Não respeitam regras. Não seguem a lei. Não querem a Ordem. São, portanto, o grande inimigo.

Os quadros mais lúcidos do establishment recuperável, onde se inserem os tucanos alckmistas, aqueles que não cederam à hipocrisia, precisam abandonar a arrogância e focar suas armas eleitorais contra o inimigo certo: Lula e seus postes.

Lutar contra o inimigo errado, levará todos para o abismo.

Resta esclarecer a questão da falsa polarização no eleitorado.

Como visto acima, a disputa não é da “direita” contra a “esquerda”, não é entre “saudosistas do militarismo” e “defensores da república de 1988″.

A polarização, agora, é de quem defende os valores morais, contra a imoralidade. De quem sabe o que é certo, contra os que só tem olhos para o que está errado. De quem deseja a Ordem, contra quem só germina na baderna.

Todos sabemos porque chegamos onde chegamos. Abandonamos os valores que sustentam nosso tecido social, e substituímos a moral por um discurso imbecil, lotado de distorções e preconceitos. Esse cipoal de rancores sociais, vitimizações, ecologismos e culturalismos desagregadores estão destruindo não apenas o presente, mas contaminando as futuras gerações.

O resultado é essa quase guerra civil, com mais de 60 mil mortos por ano, vítimas da violência urbana, o anestesiamento da sociedade ante os escândalos de corrupção sucessivos, o completo sucateamento do Estado, que a cada dia mais explora o cidadão, e a fuga em massa de talentos, para longe de um país que não mais possui auto-estima.

O fundo do poço, porém, tem alçapão. Poderemos descer mais, se não reagirmos em direção ao lado certo. Esse lado, não compreende lulo-petistas, ideólogos de gênero, capitulacionistas e corruptos. É contra eles que precisamos todos nos articular.

Hora de agir com mais humildade e… deixar diferenças entre quem pretende mudar as coisas para melhor, para enfrentar um adversário que valha a pena no segundo turno, sem o fantasma vermelho do verdadeiro inimigo, ameaçando nosso horizonte.

 

afpp (2)*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API, é Editor – Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View.

 

 

 

 

 


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