Falta de conhecimento desafia a coleta de resíduos sólidos

SÃO PAULO – O pouco conhecimento a respeito de logística reversa pode ser um dos principais problemas que a indústria brasileira enfrentará para elaborar e colocar em prática u…

Bruna Kfouri

O pouco conhecimento a respeito de logística reversa pode ser um dos principais problemas que a indústria brasileira enfrentará para elaborar e colocar em prática um Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A conclusão é de especialistas e até de autoridades do governo.

Para o diretor do departamento de competitividade industrial do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Externo (Mdic), Alexandre Comin, a falta de conhecimento sobre o assunto é uma das maiores dificuldades enfrentadas tanto pelo governo federal como pelas indústrias, para pôr um plano em ação. “Acho que a primeira peça importante que nós colocamos nesse quebra-cabeça foi o estudo de viabilidade técnica e econômica. Foi quando percebemos, há mais ou menos dois anos, com o início do processo, que tínhamos um conhecimento muito escasso sobre o tema”, explicou.

O especialista em direito ambiental e em criminalística do Pinheiro Pedro Advogados, Fernando Pinheiro Pedro, concorda com o representante do ministério no que diz respeito à falta de preparo. Ele cita ainda que, atualmente, existem poucos profissionais aptos, no mercado brasileiro, para desenvolver o PNRS. “O País está lotado de ‘palpiteiros’ e existe uma falta de compromisso por parte de algumas instituições”, afirmou o especialista.

Segundo o advogado, há um desconhecimento e uma ignorância muito grande em relação ao assunto. “Além disso, nota-se que alguns ainda não têm certeza absoluta de que a lei entrará em vigor”, ressaltou o advogado.

Como anunciado pelo governo federal, em 2014 as empresas que têm unidades no Brasil, deverão dar início ao seu projeto de captação e reaproveitamento de resíduos sólidos. Isso envolverá todo o setor, com o objetivo de diminuir o desperdício de material e incentivar a reciclagem de matéria-prima no País.

Segundo Comin, os primeiros estudos realizados, sobre o assunto, pelo Mdic, ajudaram todos os profissionais envolvidos no projeto a se nortear e a ganhar mais conhecimento sobre o tema. No entanto, ele acredita que ainda serão necessários muitos estudos e pesquisas para aprimorar os projetos que já estão sendo desenvolvidos.

“Nosso primeiro inimigo é a nossa ignorância. Nós temos um conhecimento limitado sobre uma série de aspectos, por isso, estamos tentando trabalhar nas linhas de menor resistência, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com agências de fomento”, disse Comin, em encontro realizado, na última sexta-feira, pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O evento teve como objetivo discutir os acordos de criação da logística reversa de equipamentos elétricos e eletrônicos e reuniu autoridades como a gerente de resíduos perigosos do MMA, Zilda Veloso; o especialistas da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Cássio Marx Rabello, além do representante do Mdic.

Tributos

“Além de todos os problemas práticos, enfrentamos agora um momento mais difícil: o de tentar entender a questão tributária e as questões regulamentárias envolvidas nesse assunto”, completou Comin.

Para empresários, alguns aspectos geram muitas dúvidas. O diretor geral da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (Abree), Vanderlei Niehues, a indústria já vem trabalhando desde o ano passado em ações para operacionalizar o plano nacional de resíduos.

“Estamos na fase de definição de processos e as cidades que contarão com os postos de coleta. A indústria está se preparando, porém, é o consumidor que deve ser incentivado a começar esse processo, pois é ele que terá que entregar os resíduos nos postos disponíveis no varejo”, disse.

Segundo Niehues, a logística é um dos problemas que mais preocupa os empresários, especialmente pelo fato de o Brasil ser um País muito extenso. Além disso, os primeiros levantamentos realizados pelas associações de eletroeletrônicos, apontam que os custos para colocar o projeto em ação poderão ser mais elevados que o calculado.

“Os custos que nós teremos com a questão da logística são bem o maiores do que dissemos inicialmente. O nosso País sofre com um ‘apagão’ da infraestrutura, por isso, a quantia gasta pelo varejo e pela indústria serão significativos”, disse o diretor.

Outro empecilho citado pelos empresários está relacionado com a responsabilidade e destinação dos produtos órfãos – onde se discute qual será o futuro das peças usadas, por exemplo, em computadores, cuja fábrica não têm unidades no Brasil – e os resíduos considerados materiais perigosos, como as pilhas.

Para Pedro, com o objetivo de baixar os custos, indústria e varejo podem recorrer a prefeitura, transformando o “município em um grande reciclador”. Zilda afirmou que, se as empresas fizerem isso, elas serão as responsáveis pelo pagamento do serviço prestado pela prefeitura.

Notícia publicada no dia 09 de abril de 2013, no jornal DCI. Acesse a matéria aqui (somente para assinantes).


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