POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NO RIO É OLÍMPICA

Estádio do Maracanã envolto pela poluição atmosférica - palco das cerimônias olímpicas e paralímpicas (foto: faperj)

Estádio do Maracanã envolto pela poluição atmosférica – palco das cerimônias olímpicas e paralímpicas (foto: faperj)

 

Da redação*

Dentre os grandes problemas enfrentados pelos organizadores das Olimpíadas e Paraolimpíadas, o mais complexo e, ao que tudo indica, ainda invicto face à criatividade brasileira, permaneceu no ar: a poluição atmosférica.

Matéria da Reuters sobre o fracasso das promessas olímpicas, assinada pelo jornalista Brad Brocks, sobre o nível de poluição atmosférica com a qual os competidores iriam se defrontar, durante as provas do megaevento do Comitê Olímpico Internacional (COI), permaneceu classificada dentre as “pessimistas”. No entanto, o alerta interessa não apenas para os eventos, em especial o para-olímpico que abre no dia da patria, como também à toda a população carioca.

A manchete da matéria alertava: “Ar do Rio Olímpico: sujo, mortal e sem legado mais limpo dos Jogos”. De fato, segundo o geógrafo Marcos Pedlowski. professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, “apesar da manchete parecer exagerada, a mesma não é”. “Há quase três décadas meus estudos mostravam que a qualidade do ar no Rio de Janeiro estava em condições de degradação, especialmente por causa da exaustão de gases de veículos e de indústrias. Como de lá para cá o número de veículos e indústrias aumentou bastante e não foram feitos os esforços necessários para impedir a elevação da contaminação (é só ver o caso gritante da Companhia Siderúrgica do Atlântico da ThyssenKrupp!), não há nenhuma surpresa em saber que a partir das edições realizadas na década de 1980, apenas a qualidade do ar de Beijing era pior do que a que os atletas enfrentaram e irão enfrentar na cidade do Rio de Janeiro”, arremata Pedlowski em seu Blog.

Alarmismos à parte, pois poluição do ar é algo enfrentado por cidadãos em todo o mundo, incluso atletas, o grande problema é terem as autoridades brasileiras declarado falsamente que a qualidade do ar na cidade do Rio de Janeiro estava dentro dos padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde.

De fato, não só não estão, como os jogos olímpicos e paralímpicos situam-se em plena estação seca, quando as chamadas inversões térmicas tornam-se comuns, ampliando a concentração de material particulado e gases poluentes.

Os atletas estrangeiros voltam para suas casas. A população do Rio, no entanto, continuará exposta aos efeitos deletérios da poluição atmosférica sobre sua saúde.

É de impressionar que os “compromissos ambientais”, e metas de diminuição da poluição atmosférica, assumidas pela prefeitura comandada por Eduardo Paes, tenham ficado apenas na firula – ou como dizem paulistas, gaúchos e mineiros: na “cariocada”… Afinal, o que é a saúde da população quando comparada com os lucros embolsados pelas corporações envolvidas? Bilhões livres de impostos que o COI e seus sócios levam do Brasil, sem que nada reverta para o esforço prometido e não cumprido de melhoria das condições ambientais da cidade maravilhosa.

Rio sob inversão térmica - foto: Mario Moscatelli

Rio sob inversão térmica – foto: Mario Moscatelli

“Definitivamente, isso não é ‘ar olímpico’ ”, disse o patologista Paulo Saldiva, da Universidade de São Paulo (USP) e membro de um seleto comitê de cientistas da OMS que estabeleceu padrões mais rígidos para a poluição em 2006. “Muito se falou sobre a poluição da água no Rio, mas muito mais pessoas morrem por causa da sujeira do ar do que da água”, afirmou. “Você não é obrigado a beber água da Baía de Guanabara, mas você é obrigado a respirar o ar do Rio”, arremata Saldiva.

Com uma frota de aproximadamente 2,7 milhões de veículos, responsáveis por 75 por cento de toda a poluição do ar, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), o Rio de Janeiro mantém constantes níveis preocupantes de poluição. Dados do governo estadual mostram que, desde 2008, o ar na região metropolitana do Rio de Janeiro se mantém constantemente duas a três vezes acima do limite anual da OMS para o MP 10, chamado assim porque esse material particulado tem o diâmetro de 10 mícrons ou menos – sete vezes menor do que um fio de cabelo.

À agência Folha, Tânia Braga, chefe de Sustentabilidade e Legado do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, disse que a qualidade do ar não pode ser julgada somente pelos dados de materiais particulados. De acordo com ela, outros tipos de poluentes estão apresentando níveis aceitáveis. Essa avaliação, porém, é considerada equivocada pelo professor Saldiva. Para ele, “os danos à saúde associados ao MP 10 são os mais severos que existem” e, por causa disso, pode-se dizer que o ar da cidade olímpica é ruim.

Na página da OMS, na internet, consta que o “MP afeta mais pessoas do que qualquer outro poluente”, e que a sujeira do ar causou 3,7 milhões de mortes prematuras no mundo em 2012, por conta da exposição humana ao MP 10.

Utilizando o cálculo da OMS, pode-se concluir, na comparação, que a temida violência do Rio de Janeiro gera menos mortes que a poluição atmosférica – foram 3.117 homicídios no ano passado.

De 2010 a 2014, a região metropolitana do Rio apresentou média anual de 52 MP 10 por metro cúbico de ar, de acordo com o Inea. Para a OMS, o limite é de 20…

O Inea, a agência ambiental carioca, se negou a mostrar à Reuters os dados comparativos de nível de MP para 2015 e neste ano.

Aparelho indica níveis duas vezes e meia superiores aos aceitáveis, de poluição, em frente à vila olímpica, no Rio, em junho de 2016. foto: REUTERS/Ricardo Moraes

Aparelho indica níveis duas vezes e meia superiores aos aceitáveis, de poluição, em frente à vila olímpica, no Rio, em junho de 2016. foto: REUTERS/Ricardo Moraes

O prefeito do Rio, Eduardo Paes afirma ter criado os BRT —corredores de ônibus expressos— e que o governo estadual construiu nova linha do metrô. Assim, segundo o prefeito, as melhorias do transporte público irão reduzir a poluição veicular de forma significativa.

Os BRTs retiraram de circulação 750 ônibus a diesel, responsáveis por 525 mil toneladas de dióxido de carbono diários – agora removidos

No entanto, a frota de veículos da cidade ainda cresce em 100 mil carros por ano. Em verdade, o esforço de redução dos gases poluentes e particulados exige esforço muito maior da prefeitura e do estado.

Enquanto o carioca respira o clima olímpico, terá ainda que suportar olimpicamente a poluição atmosférica que o envolve…

 

Fontes:

http://www.reuters.com/article/us-olympics-rio-air-insight-idUSKCN10C24T?feedType=RSS&feedName=sportsNews&utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+reuters%2FsportsNews+%28Reuters+Sports+News%29
https://blogdopedlowski.com/2016/08/01/o-perigo-esta-no-ar-materia-da-reuters-que-o-fracasso-das-promessas-olimpicas-vai-alem-das-aguas-da-baia-guanabara/
http://rederecord.r7.com/rio-2016/sem-legado-olimpico-ar-do-rio-e-poluido-e-mortal-01082016

 

Matéria redigida por Antonio Fernando Pinheiro Pedro e Ana Alencar

 


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