TRAGÉDIA EM BRUMADINHO – O QUE FAZER

Hora de vencer a sensação de impotência e arregaçar as mangas!

 

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Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*

Tristeza e impotência

Sensação de impotência ante uma tragédia anunciada é a pior de todos os sentimentos que podem acometer um profissional experiente como eu. É isso que sinto neste momento, quando vejo pela TV e leio pelas redes sociais as informações que chegam a respeito da tragédia do rompimento das barragens de rejeito de minérios, operadas pela Cia. Vale, em Brumadinho – MG.

Primeiro, verifico que apesar do alto nível de qualidade profissional dos responsáveis pela gestão ambiental, gestão das operações e gestão de risco da mineradora, o desastre ocorreu sem que sequer um alerta sonoro fosse emitido… sem que houvessem sensores instalados para detectar os sinais clássicos de rompimento da barragem, sem que a rotina de contingência fosse notada e a de emergência parecesse existir.

Há responsabilidades a serem apuradas, sem dúvida, e procedimentos a serem auditados. Mas, no momento, o foco é atender à emergência.

A transparência nas comunicações começa a surgir timidamente, mas percebe-se que não ocorreu mídia training digna desse nome e gerenciamento resolutivo de crise, incluso o jurídico.

No Brasil, as tragédias se repetem, ás vezes com os mesmos personagens, porque ninguém realmente parece cobrar eficácia, embora ostente eficiência (coisas bem diferentes). É a síndrome do time-sheet… das grandes padarias de prestação de serviço, onde uns fornecem o de sempre, outros consomem a mesmice – e todos acham que atingiram os respectivos objetivos. Quando a barragem rompe, e pessoas morrem… o cronômetro volta á estaca zero.

Mas o foco, agora, é atender á emergência!

O governo de Minas Gerais, dá todas as mostras de ter começado ontem. O problema é que o Poder Público do Estado de Minas é anterior, e transcende a equipe de governo. Ao que tudo indica, o novo governo, literalmente, desmontou sua organização de atendimento a emergências, desmobilizou equipes e… foi literalmente pego de calças curtas pelo desastre.

Com o governo federal não foi diferente. Embora louvável a intenção do Presidente da República de ir a Minas Gerais ver de perto o desastre – a divulgação temerária dos detalhes da visitação transpira que o deslocamento será similar a uma “excursão turística” até a tragédia. A somatória de ministros em um mesmo evento, aliás, mostra claramente que o gabinete de crise está batendo cabeça e os chefes de cada setor não se encontram ocupados em tarefas específicas.

Mas vamos manter o foco na emergência da tragédia.

 

Barragem de Brumadinho - área do rompimento

Barragem de Brumadinho – área do rompimento

 

O que deve ser feito

Por óbvio que o setor de minas e energia já deve estar em campo recolhendo todas as informações sobre a extração efetuada no local, sobre o uso das barragens de rejeitos, conferindo as licenças e o plano de lavra, número de pessoas empregadas e a composição dos resíduos.

O setor de defesa civil federal deve estar analisando como retardar, derivar e obstruir o fluxo da lama, evitando a ampliação dos danos. Já o ministério do meio ambiente e IBAMA deve estar articulando as ações de prevenção ao aumento dos danos, conferindo as licenças e autorizações e preparando as autuações – em conjunto com a Polícia Federal.

Ao presidente, cumpre ouvir o governador, o prefeito, e seus principais assessores em um gabinete de emergência no local, organizando a articulação dos entes federados para o atendimento á tragédia e apuração das responsabilidades.

O governo do Estado tem obrigação de realizar as buscas e salvamentos, atender á população enviar a fiscalização ambiental, providenciar abrigos, organizar o atendimento hospitalar e assistência social.

O relógio deve ser dividido em horas, com prazos para cumprimento de metas estabelecidos, para atendimento das demandas emergenciais e enfrentamento dos efeitos advindos da tragédia.

Parece óbvio, mas não é. E essas ações devem ser comunicadas, mas não pelas autoridades que deverão estar empenhadas full time na atividade. Por isso, uma eficiente estrutura de comunicação se faz necessária.

A busca pelos desaparecidos, o restabelecimento das comunicações locais, a conjugação de esforços, incluso com a empresa responsável pelas barragens, visando mitigar os danos e atender às emergências, devem constituir o foco principal da atividade integrada dos poderes da república.

Depois… investigar a fundo os fatos e identificar os responsáveis.

Mãos a obra!

Para aprofundar o cenário, vale a pena ler:

“TV CULTURA DEBATE DESASTRE AMBIENTAL DE MARIANA – O Impacto Ambiental do rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana – MG, debatido em todos os seus aspectos”, in https://www.theeagleview.com.br/2015/12/tv-cultura-debate-desastre-ambiental-de.html

“CRIME AMBIENTAL – RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA – Natureza econômica do delito e sua investigação”, in https://www.theeagleview.com.br/2013/06/crimes-ambientais-afericao-da.html

 
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*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.

 

 

 

Fonte: The Eagle Views

 

 


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